terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

VERDADE: OS FILHOS COPIAM OS PAIS...


Terça-feira, 12 de fevereiro de 2008 - jornal estado de minas

TRÂNSITO
Aula de desrespeito nas ruas
Com o início do ano letivo e o aumento do número de carros em circulação, motoristas de BH voltam a enfrentar problemas causados pela falta de educação na entrada das escolas
Izabela Ferreira Alves

Fotos: Euler Junior/EM

Uma volta pela capital, no fim da manhã de ontem, garantiu dezenas de flagrantes de infrações no trânsito. Nas imediações do Colégio Santo Agostinho, no bairro de mesmo nome, crianças desembarcaram do escolar no meio da rua ...


Veículo especializado em transporte escolar parado no cruzamento entre as ruas Mato Grosso e Aimorés, no Bairro Santo Agostinho, perto do colégio de mesmo nome, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O sinal já bateu, é hora da entrada e saída de alunos e de muita confusão no trânsito. O motorista nem sai da van para desembarcar as crianças. Manda os meninos abrirem a porta, ainda em cima da faixa de pedestres, e a garotada desce passando por dentro de uma área do passeio cercada, por estar em obras. Atrás, forma-se uma fila de ve[iculos e as buzinas são a trilha sonora da cena. Abusos como esse, numa demonstração de total desrespeito às leis de trânsito, puderam ser flagradas em todas as regiões da capital. A cidade sentiu ontem os reflexos da volta às aulas, com o aumento da frota em pelo menos 40%. E para piorar, a caótica situação no entorno da Praça Raul Soares, no Centro, vai continuar pelo menos até junho.

Segundo a BHTrans, com o fim das férias de verão, mais de 1 milhão de veículos voltam a circular em BH e a entrada das escolas é um dos pontos críticos para a empresa que administra o tráfego na cidade. O conselho do membro efetivo da Câmara Temática de Educação para o Trânsito e Cidadania do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e gerente dessa área na capital, Eduardo Lucas, é optar pelo transporte escolar. “Os veículos de menor capacidade conseguem tirar das ruas até 20 carros. Hoje há muitos automóveis e pouco espaço. É uma equação que não fecha”, afirma. Ele argumentou que, se forem computados os gastos com o tempo perdido, combustível e estresse, a mudança vale a pena.


... enquanto na Rua Pernambuco, em frente ao Colégio Santo Antônio, carros estavam parados em 45 graus, o que é proibido, e também em fila dupla, causando grande congestionamento ...

Mas para a advogada Maria Aparecida Moura de Mendonça, de 39 anos, a troca não é tão lucrativa assim. Mãe de Julia, Camilla e Pollyana, de 10, 14 e 16 anos, respectivamente, ela considera alto o gasto com o ônibus especial. “Não compensa. Para três filhos, o impacto no orçamento é acentuado e moro perto da escola”, justifica. Ela ontem foi buscar as meninas no Colégio Santo Agostinho e deu um bom exemplo. Só ligou o telefone celular – usá-lo com o carro em movimento é infração média, acarreta a perda de quatro pontos na carteira nacional de habilitação (CNH) e multa de R$ 85,13 – depois de conseguir uma vaga em local permitido. “Nem sempre é assim. Às vezes, nos pegamos cometendo infrações”, pondera.

Para não correr riscos, o gerente da BHTrans aconselha aos pais e responsáveis sair um pouco mais cedo para buscar as crianças. E tambémnão parar em fila dupla, principalmente, por causa dos engarrafamentos que elas produzem, complicando todo o trânsito, observar as portas de garagem, filas de pedestres e pontos de ônibus. “É impossível manter um agente em cada esquina. Por isso, os motoristas deviam ter uma postura mais cidadã, respeitar o direito dos outros e ter comportamento politicamente correto, até mesmo para cobrar dos demais e adverti-los, quando estão fazendo um papelão, tema da nossa campanha”, diz.


... assim como na porta da Escola Estadual Bueno Brandão, onde a equipe de conscientização da BHTrans tentava convencer os motoristas, sem muito sucesso, a respeitar a faixa de travessia de pedestres

EDUCAÇÃO O fato de o próprio cidadão, e não só os fiscais, poder cobrar respeito dos demais motoristas às normas de trânsito é o mote do comando educativo da empresa, que vai percorrer várias escolas durante a semana. Ontem, teatro e música animaram o retorno à Escola Estadual Bueno Brandão, na Savassi, na Região Centro-Sul. “Além de bonito, é importante. Mostra aos mais velhos como é feio parar onde é proibido e não usar o cinto de segurança”, destaca o estudante Erick Pereira de Souza, de 9 anos, mostrando que aprendeu a lição. No entanto, há muitos adultos que esperam leis mais brandas. “Acho um absurdo a BHTrans ficar no nosso pé e vir aqui só para nos multar. Parei na fila dupla por uma fração de segundos, não tem vaga para todo mundo”, defendeu-se a arquiteta Regina Boaventura, de 45, quando buscava o filho no Colégio Santo Antônio, também na Savassi, estacionada em local impróprio.

Poucos minutos na porta da Bueno Brandão, e o agente Silvestre teve que pegar seu bloco de multas. “As pessoas insistem em fazer errado, mesmo conhecendo as regras. A ação de flanelinhas também é um problema. Eles param os carros em local proibido e só tiram quando chegamos”, reclama. O agente de educação para o trânsito Robson Alves lembra que as multas mais comuns nas ruas vizinhas às unidades de ensino variam de leves a graves, o que implica a perda de três ou cinco pontos na CNH e multas que podem chegar a R$ 127.

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